A foto tirada anos atrás esta assentada sobre o sofá e eu a vejo como que vendo aqueles dias em que nos beijávamos na praia.
O cheiro adocicado da fruta em sua mão... não havia cheiro nenhum era uma melancia aguada, mas com tempo iludi-me
O sorriso belo no rosto, e a pele quente e queimada do sol.
Eu ainda vejo a foto como que o momento em que vejo seja presente, e o é, mas também é em minha mente aquele momento gravado em cores no papel, eu vivo e o revivo dias e dias contínuos, a procura de resposta para minhas perguntas sobre o tempo, como foi tudo tão rápido, como foi tudo ligeiro!
O único pensamento a reconfortar e fazer minhas lágrimas secarem antes de tocar a cerâmica do chão de minha casa, é saber que tudo naquela foto, embora não mais possa ser criado (não mais com aquela pessoa novas histórias serão feitas), já foi feito e está cravado no passado, e no passado ficará quieto por todo o futuro.
Fulgor estúpido de sentimentos de um velho são minhas palavras, fulgor do tipo que como cozinha chinesa não encontra saída para jogar a fumaça, o que me faz ter de jogar os sentimentos que não são físicos tais como a fumaça em pré-delírios metafísicos nessas palavras.
Eu ainda assim choro, de nada adiantou meu conforto/consolo.
Eu ainda assim esmurro a mesa ao escrever isso.
Eu ainda assim gozo meu presente, como que sendo o meu futuro, ainda impalpável, tudo para tentar tornar-lo mais real e de nada adianta.
Não a diferença entre o homem que como eu, beba e transe intensamente nos cabarés pela noite e aquele sentado num banco durante a extensão temporal de todo um dia quando o critério a ser julgado é decidir quem está mais vivo na visão de si próprio. Embora para outros eu pareça estar mais, por “aproveitar” mais o tempo de um dia fazendo coisas que me dão prazer, no critério frio de vida apenas estou vivendo; o homem quieto na praça, também sente-se vivo, a diferença então no teor pessoal é que ele, sabe que amanhã poderá mudar e ir ao encontro de outra estória a ser feita por ele, outro banco á sentar, poderá viajar, ir trabalhar, procurar mulheres, escrever, ler, ajudar mendigos na rua, limpar fossas como voluntário, ou pular de uma ponte, eu por minha vez estou preso a uma rotina dentro de minha mente, e incentivada por todos aqueles que se dizem amigos.
Por saber estar na rotina seria fácil livrar-me dela não? Não! Ainda assim faço algo e home da praça, hum! Ele fica parado o dia inteiro.
- Alguém me diz:
“ele pensa, ele obtêm sabedoria, e a põe em prática quando ninguém o olha na praça, ele não se importa se os outros o julgam grande homem, ou belo, apenas importa-se com o que faz e o seu auto-julgamento, e não sofre por isso, não precisa ser casca grossa para aguentar o que dizem sobre ele, só põe as criticas em outra via na mente”. – sou eu falando a mim mesmo.
[aqui abro nota para falar de minha auto-analise: estou impondo minhas verdades alegres e tristes para perceber que
não sou integralmente qualquer um delas, afinal são todas verdades, cada uma concreta em algum momento.]
Ainda ela :
Volto a meu presente anterior quando estou a escrever isso, e sento-me no sofá:
Ainda vejo a foto dela, ela não morreu, a fruta ali está na sua mão, ela está morta. Morta no presente em que vejo a foto, mas eu ainda busco uma carniceira inspiração nesse fato, podridão, e delírio existencialista é o que me vem.
A única qualidade do que digo é a qualidade de um idiota que desabafa.
Agora no sofá, eu corno convicto, puta sacana, viúvo, pseudoninfomaníaco, e fedendo
somo todas as qualidades como intrínsecas no que atende-se como
eu, e eu pego a faca e faço a velha e boa cena de louco que quer suicidar-se: furo o dedo, oponho a lamina ao peito, mas sou corajoso demais para deixar a vida, sou covarde para enfrentar a morte.
Deito-me e começo a pensar em tudo o que escrevi e em escrever esse texto que você lê, o escrevo as 15:00h do dia posterior, morro as 16:23 h e percebo estar vivo as 16:23h e alguns segundos. Gozo na cama de alguém mais tarde em um cabaré e ainda assim faço o mesmo no dia posterior.
O que falo é de raiva, é pintura fraseada de meu sofrimento, e deprecio a mim com isso tudo, esse martírio de rotina que apenas é causado por mim, no entanto logo melhorarei, e a agonia e melancolia que me faz cair no velho clichê irritante dos escritores dramáticos que falam de loucos e suicidas, sexo e bebida vai ir embora, e o que lhe restará, tal como da minha mulher foi a foto, é o texto que você lê, e dele quero só me livrar, mas não antes de você o ler. E assim, com sempre alguém disposto a ler excremento qualquer nunca irei... E enquanto ele existir sempre estarei propenso a voltar a seu estado...
PS: Percebo que ainda que o queime ele sempre será verdade concreta do passado de quando o escrevi até quando você lê aqui a ultima palavra (o mínimo para ele existir), tal como os dias na praia atemporal ele sempre será real em qualquer instante lá no passado e no futuro enquanto estiver o primeiro sendo lembrado em seu decorrer. e aqui delineio uma de minhas vertentes, a de melancólico mal expressado.