quarta-feira, 8 de junho de 2011

O adeus a Ronaldo



“Ronaldo jogará mais uma vez pela seleção...” a noticia fora dada a alguns meses mas hoje acordei, a TV ligada assistindo ao jornal onde o ancora anunciava, parecia falar para mim... eu percebi naquele instante saindo do sono que entrei num sonho de lembranças, voltei a anos atrás em meus sentimentos e mais uma vez em minha vida eu senti o lúdico que sentia quando era criança atrelada a Ronaldo no choro de 1998, na queda de 1999 e no outro choro o de 2002, decidi então em nome de tanto o que ele “me fez” escrever  um texto, não sei se fará jus a toda a sua carreira, na verdade, o que quero é que faça jus ao que me fez sentir (assim como fez a todos os brasileiros), se o resultado em diante é bom, não sei, mas desde já obrigado a Ronaldo:
   Em algum canto nos cafundó de minha memória surgiu um garoto magrela, dentuço e engraçado dizendo que pensava em “quem sabe, fazer história com a camisa da seleção brasileira”, a lembrança é vaga em minha mente e nem saberia o por que de estar ali, provavelmente não estaria se o garoto não tivesse posto tantas lembranças outras no encéfalo coletivo do Brasil, aquele mesmo que esquece dos escândalos políticos, mas nunca esquece dos escândalos e da gloria de um futebolista. Assim o garoto Ronaldo cresceu, tornou-se astro, nós vimos, jogou e perdeu, nós choramos, levantou-se e ganhou, sorrimos, gritamos. Tanto houve de lá até cá, e agora um jogo de futebol a mais pela seleção, a amarelinha de tantas lendas, grupo o qual ele irá figurar como ídolo do passado.
  Nesses dezessete anos ao lembrar vem em minha mente “a bola, o campo, a chuteira, o jogo,o gol” e o grito e Galvão Bueno “Rrrronaldinho”. Ronaldo é dono de tudo isso, e com isso tudo foi dono das gargantas e dos corações apertados tantas e tantas vezes. é clichê perguntar, mas perguntamos: "Que coisa é essa de futebol?" Isso de tornar meros homens em heróis por serem capazes de fazer dançar a bola nos pés e com isso levar milhões, centenas de milhões de torcedores ao delírio, num único drible, num único chute, bons e velhos instantes mágicos que muito embora possa por um leitor qualquer ser dito que nestas minhas palavras lhes são atribuídos muito romantismo, basta perguntar para aqueles que viram uma final de copa do mundo como 2002 “o que acham disso?”.
   Ronaldo exemplificou como poucos todos esses atos da peça de um jogo de futebol, toda a poesia da bola, ele não foi um parnasiano qualquer, foi surreal sem exagerar nos dribles, foi modernista inovador, sabendo ser clássico na constância repetitiva da palavra gol e claro embora óbvio dizer, eu digo, que fora de campo ele foi muito mais do que um arlequim bobo alegre e vaidoso, que deitou e rolou com a bola a frente ou entre os adversários, então foi um super-homem? Não, com certeza não, foi diferente também de um herói certinho, porque Ronaldo foi e é mitológico, durante o percurso de anos e anos ele foi Ícaro ao cair, foi Hercules lutando, foi Hermes ao voar nos pés mágicos trazendo mensagens dos deuses do futebol, também foi Pelé e foi Garrincha jogando. Descobrimos que tipo de herói foi Ronaldo-jogador/homem, não foi grego, foi herói brasileiro, pois sua principal missão ele cumpria com maestria, nós salvava sendo a personificação do nosso desejo de querer alguém para nos fazer sonhar acordados numa tarde de domingo, antes de acordarmos para o trabalho e as contas a pagar no dia seguinte, mas também sendo ele a personificação de todos nós homens comuns é ele próprio personificado por cada um de nós, num garoto qualquer na pelada da rua, ou num homem indo trabalhar, mas cheio de superlativo com relação ao carisma, inteligência ao lidar com as pessoas e claro com sua intimidade maior com a redonda.  
    Hoje a noite Ronaldo que já despediu-se dos gramados irá ter as honras que merece numa despedida da seleção e do futebol, mas essa noite senhoras e senhores não irá coroar com um grande fim a carreira de Ronaldo, não leitor, pois não é para isso que serve hoje, essa noite servirá como um espelho do tempo, onde tudo o que passou-se na vida dele e principalmente em nossas vidas quando estivemos ligados ao futebol, será relembrado. Não é pelo jogo, é pelo ritual que sempre vimos e sentíamos falta de o ver com a camisa número 9, não é pelo presente, nem pelo que ocorreu ontem, é sim pela lembrança que em vez de tornar-se presa á aquele passado rasga o tempo e é eternamente revivida e sentida em nossas mentes e corações ao revermos em todos os futuros-presente as imagens daqueles dias de um eterno passado. Ainda lembro-me de muitas delas...
   Agora aos que virão depois os velhos chatos de minha geração, como decerto serei um, sempre repetirão o clichê-verdade “quem viu, viu! quem não viu,não vai ver mais!” ao menos não pelos olhos cobertos de lagrimas ou brilhantes de sorriso da geração que viu 1998 ou 2002, mas há-se de lembrar que lhes dou garantia que esse homem que tornou-se – sem exageros - um símbolo o qual durante 17 anos, 17 abençoados anos de nossa geração, vagou os campos de futebol desse planeta  como jogador, foi, é e continuará a ser o fenômeno Ronaldo Luís Nazário de Lima...